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sábado, 31 de janeiro de 2015

Crítica - Birdman ou A Inesperada Virtude da Ignorância

Uma breve crônica antes da crítica de fato:

Em meados de agosto de 2011, um terrível inferno astral tomou conta de uma família gaúcha e interiorana. Um jovem garoto, que então tinha 16 anos e estava prestes a se formar no Ensino Médio, foi acometido de uma terrível depressão por conta de suas inseguranças, ao mesmo tempo em que tivera um pré-diagnóstico de um provável câncer de linfoma. Como seus pensamentos não estavam fluindo da melhor forma, essa possível doença fora o suficiente para provocar insatisfação com a vida, e fazer de uma possibilidade uma certeza cruel e enfadonha.  Muito drama para poucas vias e fatos, sabemos disso. Fora também que, em meados de agosto daquele ano, Biutiful (filme Alejandro González Iñarritu) chegara às vídeo-locadoras. O filme retratava a história de um homem – interpretado por Javier Bardem - por volta de seus 40 anos, que se vê no final de sua vida graças a um câncer terminal no cérebro. Sem saber como lidar com a frustração de deixar dois filhos para trás e cancelar os planos de longo prazo, a personagem se expandia na tela e se aproximava do espectador com os questionamentos de sua não tão branda vida. Essa aproximação foi sentida por este tal garoto, por achar que seu drama dialogava com o universo apresentado. Um capricho púbere, mas que fora muito importante e esclarecedor no período, dizem. Sentimento, este, raro que aparece poucas vezes e, que de forma curiosa, se fez mais uma vez presente na vida deste mesmo garoto, anos mais tarde... Pelas mãos do mesmo diretor.

Birdman – Alejandre González Iñarritu

Após se manter quatro anos afastado das telas de cinema, Iñarritu decide voltar com o longa “Birdman ou A Inesperada Virtude da Ignorância”. Trata-se de um falso plano sequência no qual o diretor propõe discutir os valores da arte e o egocentrismo humano, o filme é de fato um acerto cinematográfico e uma obra de cunho filosófico (sem o pedantismo de suas semelhantes) acessível e cercado de uma universalidade poderosa. Birdman fala com todos os públicos sobre um assunto não tão claro com estes, e ao mesmo tempo que questiona a grandeza da arte, reflete sobre para quem a mesma é feita e em nome de quem (ou qual ego). A história trata-se de Riggan Thomson (Michael Keaton), um ator que fizera muito sucesso em seu passado interpretando Birdman, um super-herói que se tornou um ícone cultural. Em busca da fama perdida e também do reconhecimento como ator, ele decide dirigir, roteirizar e estrelar a adaptação de um texto consagrado para a Broadway.* Ao mesmo tempo que Riggan tenta levar adiante sua peça, a voz de seu alter-ego (Birdman) domina sua mente, lhe fazendo refletir se o mesmo faz isso em nome da arte ou em nome da fama que não se faz mais presente em sua vida, seria sua peça um fruto da ambição pessoal?

Still frame de "Birdman" (2014)
Como todo bom plano sequência, Birdman traz cenas com coreografia precisa e eficiente, que não só permitem um melhor jogo de cena na atuação de seus protagonistas, mas também uma sensatez quase documental de sua fotografia (assinada por Emmanuel Lubezki, responsável pela fotografia de “A árvore da vida”). Praticamente todos os elementos de interferência visual e de iluminação tem sua presença justificada, graças à ambiência do universo apresentado: um teatro da Broadway. Esse cenário permite uma atmosfera mágica e de total imersão, os atores contracenam dominando todo o espaço enquadrado, e quando um deles está fora de quadro, objetos permitem uma extensão visual incluindo-os de volta à cena, seja espelhos ou reflexos de janelas – uma interferência inteligente, e que já estivera presente em outros títulos do diretor (como “Amores Brutos”, de 2006).

Além de Michael Keaton, o longa tem outros inúmeros atores que se demonstram não apenas bem ensaiados como também extremamente funcionais em cena, não há uma única atuação que deixe à desejar e todos parecem entregues à insanidade do protagonista (destaque para Edward Norton e Naomi Watts, no papel dos colegas de cena da peça). Atuações que ganham maior destaque quando acompanhadas dos belos diálogos apresentados durante as duas horas de filme, um acerto enorme devido à importância que as falas representam no mesmo, não só no sentido narrativo ou didático, mas também na criação da atmosfera representada, afinal, estamos em um teatro e aqui as coisas devem ser ditas de forma clara e forte.

Com um estado psicótico em evolução o filme cresce à medida que o protagonista fica mais louco, chegando ao momento que tanta insensatez se torna quase palpável para o espectador. Alguns elementos cenográficos começam a se transformar em semiótica pura e exibicionista, como se os estado mental do personagem agora ocupasse forma física e interferisse geograficamente a todos que o cercam. Loucura essa que acaba nos remetendo a outros dois grandes filmes que trabalham com o tema: “Cisne Negro” dirigido por Aronofsky e o clássico “Crepúsculo dos Deuses”, de Billy Wilder. Birdman se encerra com a máxima mais radical da arte, longe de um niilismo momentâneo, dando sangue em troca de sua realização – de forma literal.

Still frame de "Crepúsculo dos Deuses" (1950)
Pela primeira vez Iñarritu não trata de um assunto político-social, mas sim daquilo que sempre o incentivou à fazer cinema - o amor pela arte – e mesmo assim não deixa a atmosfera pesada de seu drama se afastar, reflexões mais poéticas e nuances não tão sucintas ainda permitem uma provocação direta com o espectador que mesmo sem ter uma identificação clara com os personagens, acaba por compreender e partilhar das frustrações vividas na tela.  Seja a trilha do jazz, as referências atuais ou o contexto em que o filme é situado, alguma coisa neste universo criado por Iñarritu não só cativa, como também humaniza aquilo que endeusamos e sofisticamos tanto, a arte. Por fim o diretor afirma que a mesma não só nos torna mais transparentes, como também nos faz ser quem somos.

*Sinopse retirada do site adorocinema.com.br

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Crítica: A Entrevista, de Seth Rogen

Após a exaustiva polêmica envolvendo o filme “A Entrevista”, episódio em que um grupo de hackers da Coréia do Norte ameaçou ataque terrorista próximo aos locais em que o filme fosse exibido nos EUA – o filme, dirigido por Seth Rogen, finalmente é lançado na internet (através de plataformas como Itunes e Amazon) e em apenas três dias já fez 18 milhões de dólares – o equivalente a um terço do orçamento do filme. Mais uma vez a polêmica vem acompanhada de bom retorno financeiro, mas isso torna "A Entrevista" um bom filme?

Depois de dirigir o mediano “É o Fim” (2013) Seth Rogen, que sempre se destacou como roteirista, aventura-se dirigindo pela segunda vez. Renovando a dobradinha James Franco e Seth, A Entrevista não é de todo play safe e se revela – entre altos e baixos – um filme sólido e interessante. Com quase duas horas de duração, o longa conta a história de um produtor televisivo (Seth) e o apresentador de um programa de entretenimento (James) que veem em uma entrevista com o líder da Coreia do Norte, a chance para elevar o nível qualitativo de seu programa, o qual não é levado à sério apesar de ser um imenso sucesso. Com uma introdução cansativa, principalmente graças aos trejeitos caricatos do personagem de Franco (ator que apesar de muito carismático, se revela cada vez mais mediano no que se diz sentido à sua competência profissional) o filme demora a desenrolar e insiste em algumas piadas repetitivas e que já foram vistas em outros trabalhos do diretor. Erro que se repete várias vezes durante o filme, que insiste em piadas já apresentadas, apenas pelo apelo popular (vide a piada sobre Firework, música da cantora Katy Perry, utilizada quatro vezes durante o filme). Apenas com a chegada de Kim Jong-un (o vilão) que o filme toma forma e recupera o fôlego que faltava.

Seth Rogen e James Franco, protagonistas do filme.
A partir dos 40 minutos, com a ida dos protagonistas a Coreia do Norte, “A Entrevista” se torna um atrativo enquanto apresenta o país que os mesmos visitam. Criando um universo bem único (o qual fica pontual através da direção de arte, que trabalha frequentemente com texturas e cores saturadas, parte da ilusão criada pela ditadura com os turistas, de que o país é divertido e belo) as piadas fluem melhor e se tornam mais dinâmicas, Rogen explora seu potencial como roteirista, mesmo com a pretensão xenofóbica de alguns momentos, e permite que os personagens cresçam à medida que o longa se desenrola: se até então o personagem de Franco era totalmente dispensável e irritante, na segunda metade do filme o mesmo se torna plausível e carismático. Outro destaque do roteiro é a presença da personagem Sook (interpretada por Diana Bang) que se revela forte e é a responsável pelas (poucas) reflexões de cunho político do filme e, ao contrário da maioria das comédias norte-americanas, não fica presa entre piadas machistas e na exclusividade de ser um apoio para o homem predominante em cena.

Still Frame do filme "A Entrevista"
Não é só no aspecto de Sook que o filme se diferencia, mas sim em fazer piadas com o opressor e não com o oprimido – apesar de algumas vezes as piadas lembrarem muito o discurso torto sobre um país socialista (o mesmo de "ditadura cubana no Brasil") e enaltecimento do estilo de vida norte-americano – ainda assim tem caráter diferente daquilo com que estamos acostumados a presenciar no cinema. O que se percebe é que, mesmo com um roteiro original, “A Entrevista” depende totalmente de apelo popular para que suas piadas surtam efeito; Seja através das referências e citações, até sua trilha sonora a qual é toda construída pela hype pop do momento (desde a já citada Katy Perry, passando por artistas como Major Lazer, Kid Cudi e Lil Wayne) o filme se escora em suas musicas assim como em uma montagem mais dinâmica (de videoclipe) para encorajar seu público a rir de suas piadas.

No final das contas o longa se revela um filme acima da média e de uma inteligência de marketing assustadora, não surpreenderá se o mesmo for o filme mais vendido de 2015 visto que o mesmo fora um dos assuntos mais comentados no segundo semestre de 2014 e, visto também, que desde TED (filme cafona e sem senso algum de timing para piadas, dirigido por MacFarlane) uma comédia não possuía apelo popular com tamanha magnitude. Well done, Seth Rogen.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

TOP 10: Melhores do Ano (parte 1)

Continuação dos melhores deste ano, a primeira parte você confere aqui.

05. Boyhood

A proposta inicial de Boyhood (projeto do diretor Richard Linklater, responsável pela trilogia “Antes do...”) já é um ganho e tanto para o cinema, pois se trata de um filme que demorou 12 anos para ser gravado, sendo assim todas as passagens de tempo retratadas no filme são de fato existentes. Contando a história do garoto Mason (interpretado por Ellar Contrane) que precisa lidar com o divórcio dos pais (Ethan Hawke e Patricia Arquette). O longa (realmente longo, com mais de três horas de duração) é um retrato do comum, sua história não apresenta grandes nuances e nem por isso deixa de ser interessante, pelo contrário, a sensibilidade apresentada é tanta que a empatia com os personagens surge do elemento mais nobre que o filme pode apresentar: o auto reconhecimento por parte do espectador com o protagonista. Boyhood trata-se de um filme minimalista com tremenda grandeza artística.


4. Sobre Sete Ondas Verdes Espumantes

O documentário nacional dirigido por Bruno Polidoro e Cacá Nazario fala sobre a carreira de  Caio Fernando Abreu (poeta brasileiro falecido em 1996), não dá forma piegas e tradicional que estamos acostumados, mas da sim de uma forma romantizada e introspectiva para dentro do universo do poeta. Através da leitura de poemas e cartas pessoais de CFA com seus amados, o filme narra momentos pontais da vida do mesmo sem perder sua sutileza em momento algum. Outro ponto alto do longa é sua montagem (parte fundamental de todo documentário, pois é este que constrói sua narrativa) onde o mesmo se atribui de uma experimentação incisiva enquanto os convidados declamam as palavras de Caio.

3. O lobo atrás da porta

O thriller nacional mais empolgante dos últimos anos, tratando-se de uma “Medeia brasileira”, o filme (dirigido por Fernando Coimbra) é uma surpresa não cronológica extremamente positiva. Acompanhe a crítica completa aqui.

O lobo atrás da porta (still frame)
2.  Gone Girl

David Fincher é um dos diretores mais eficientes na arte de apresentar blockbusters de forma refinada/não somática. Tendo suspense como seu gênero favorito, seus filmes sempre apresentam uma atmosfera densa e claustrofóbica onde nem mesmo seus protagonistas são totalmente claros para quem o assiste. David adora adaptar livros para as telas do cinema, porém nunca fica responsável pela adaptação de seus roteiros - em Garota Exemplar a encarregada da vez fora Gillian Flyn, que o fez com grande sabedoria ao construir a ambiguidade por trás dos personagens e ao momento de apresentação de seu principal plot twist, se assimilando com os roteiros de outros jovens no cinema mundial como Pascal Laugier (Martyrs, 2008) e Yorgos Lanthimos (Dente Canino, 2009) que revelam suas surpresas de forma muito natural e contemplativa – sem grandes destaques sobre o mesmo a ponto de o espectador ficar em dúvidas sobre a verossimilhança dos fatos apresentados até então.

1. Mapa para as Estrelas

Em primeiro lugar fica o filme de David Cronenberg. Mapa para as Estrelas é de longe o filme mais completo do ano, não existe um único erro no universo dos artistas recriado no longa. Quase de forma caricata, a complexidade dos personagens é tanta que o grande atrativo do filme é justamente tentar compreender o que há por trás das decisões dos mesmos. Juliane Moore é o maior destaque da obra, sua personagem é o retrato de uma atriz acabada e que vive dos restos de sua carreira (quase uma Lindsay Lohan pós-moderna) e apesar da mesma protagonizar momentos dramáticos, acaba por se tornar um alívio cômico degradante – tanto que a atriz fora nomeada para Melhor Atriz de Comédia com este papel no Globo de Ouro de 2015. Cronenberg acerta em, mesmo se tratando de um drama palpável, manter uma miscelânea de elementos que remetem ao de uma ficção futurística (seus cenários ricos e elementos sobrenaturais acabam por lembrar outros grandes títulos do diretor clássicos como Videodrome e ExistenZ). O filme conta três histórias paralelas: Agatha Weiss (Mia Wasikowska) acabou de chegar a Los Angeles e logo conhece Jerome Fontana (Robert Pattinson), um jovem motorista de limusine que sonha se tornar ator. Não demora muito para que ela comece a trabalhar para Havana Segrand (Julianne Moore), uma atriz decadente que está desesperada para conseguir o papel principal da refilmagem de um sucesso estrelado por sua mãe, décadas atrás. Ao mesmo tempo o garoto Benjie Weiss (Evan Bird) enfrenta problemas ao lidar com seu novo colega de elenco, já que é a estrela principal de uma série de TV de relativo sucesso.”


Outros títulos promissores mas que ainda não estrearam no cinema mundial e/ou saíram para download:
Adeus à Lingaugem (Jean-Luc Gordard)
Birdman (Alejandro Gonzales Iñarritu)
A Gangue (Myroslav Slaboshpytskiy)
Our Sushi (Hong Sang-Soo)
Mommy (Xavier Dolan)
The Look Of Silence (Joshua Oppenheimer)

Este fora o top 10 de 2014, espero que tenha gostado e até 2015!

TOP 10: Melhores do Ano (parte 2)

2014 não fora um ano muito promissor para o cinema de modo geral, filmes que prometiam muito se mostraram medianos (a.k.a Interestelar) e o cenário do terror não trouxera títulos empolgantes. Porém os poucos nomes de qualidade se mostraram extremamente concisos e satisfatórios, reservando inclusiva algumas surpresas. Abaixo segue a primeira metade da lista de os melhores filmes do ano (segundo este que vos escreve), acompanhado de um curto review sobre as impressões gerais dos citados.
Lembrando que muitos títulos importantes do ano ficaram de fora, ou por não terem estreado ainda em circuito nacional ou por não estarem disponíveis para download.


10. Babadook

De longe a surpresa mais agradável do ano e vinda direto da Austrália, em uma época onde o cinema de terror não causa nada além de decepções, o filme Babadook (que marca a estreia de Jennifer Kent na direção) se apropria da narrativa do terror para apresentar um dos dramas mais densos do ano, contando a história de uma mãe a beira de um colapso nervoso que precisa lidar com um filho com transtornos que jura estar sendo atormentado pelo monstro de um livro: o Babadook.
Com uma atmosfera muito próxima a dos anos 80 (beirando o anacrônico), o filme se sustenta todo na belíssima atuação de Essie Davis interpretando a mãe do menino. A grandeza do vilão no longa, o monstro Babadook, é outro ponto alto e suas poucas aparições acabam se tornando justificáveis: O monstro na verdade é uma metáfora para com a depressão da protagonista, tratando-se de um artifício para a compreensão do universo da mesma.

09. Sob a Pele

Sob a Pele é sem dúvida o filme que mais debate gênero do ano 2014. O filme nos traz a história de uma alienígena (interpretada por Scarlett Johansson) que vaga a terra em busca de homens para matar, atraindo suas presas através da sedução. Um filme que começa com um discurso (da não existente, deixemos claro) misandria aos poucos se dissolve em uma compreensão, por parte da protagonista com o sexo masculino, de humanidade e afeto. O que no final se revela um erro, levando em conta a sequência final do filme.
Dirigido por Jonathan Glazer, que até então só havia feito o duvidoso Reencarnação (2004), e apesar de perder um pouco de seu ritmo da metade para o final, o filme se conclui de forma satisfatória. E claro, é impossível falar sobre “Sob a Pele” sem destacar sua trilha sonora: uma das melhores do ano.

Cartaz Sob a Pele (2014)
08. Guardiões da Galáxia

Sim, um filme da Marvel no top 10 – famosa por trazer filmes genéricos e de fórmula repetitiva todos os anos – é de tremenda estranheza mas, Guardiões da Galáxia merece destaque por apresentar originalidade e valor a sua narrativa, principalmente no que se trata a fotografia. Brincando com elementos como câmeras gravitacionais e falsos planos sequências, é inevitável a percepção de um refinamento no ponto destacado. Conta a história de Peter Quill (Chris Pratt) foi abduzido da Terra quando ainda era criança. Adulto, fez carreira como saqueador e ganhou o nome de Senhor das Estrelas. Quando rouba uma esfera valiosa, para escapar do perigo Quill une forças com quatro personagens fora do sistema: Groot, uma árvore humanóide (Vin Diesel), a sombria e perigosa Gamora (Zoe Saldana), o guaxinim rápido no gatilho Rocket Racoon (Bradley Cooper) e o vingativo Drax, o Destruidor (Dave Bautista).*
A qualidade do filme de forma alguma é vista com surpresa (apesar da falta de qualidade na maioria dos filmes da Marvel), pois trata-se de um filme dirigido por James Gunn. O diretor é conhecido por ter feito filmes como Seres Rastejantes (b-sider de terror de 2006) e escrever Scooby-Doo (2002), ambos divertidos e com tramas bem amarradas... o que reflete automaticamente no resultado final de Guardiões da Galáxia.

Cartaz Guardiões da Galáxia
07. The Story of Descendents/All

Um filme que trata sobre a história da banda Descendents, o nome mais relevante para o pop-punk, de uma forma sensível e inspiradora (também com um dos motion graphics mais bonitos do ano). Acompanhe a crítica completa aqui.

06. Ninfomaníaca

Lars Von Trier é sempre a polêmica de todos os anos (refiro-me a ele como Lady Gaga do cinema, fazendo promessas para obras que no final das contas não são tudo isso), depois do mediano “Melancolia” (2012) a bola da vez foi com Ninfomaníaca. O filme que fora dividido em duas partes (ordem da distribuidora, visando lucros maiores) é mais uma vez abaixo daquilo que fora prometido, mas ainda assim é um filme interessante e irreverente. Contando a história de uma ninfomaníaca chamada Joe, interpretada por Charlotte Gainsborg, a qual é encontrada em um beco, por um homem mais velho chamado Seligman (Stellan Skarsgard). A partir daí a história de desenrola com uma retrospectiva narrada pela protagonista, e que é dividido em dez partes, e é justamente essa divisão um dos pontos altos do filme. A divisória narrativa permite que diferentes universos de Joe sejam apresentados ao longo do filme, e a cada vez que um capítulo entra em cena elementos como arte e direção de fotografia também apresentam suas variações. Outras características do diretor também se fazem presentes (desde diálogos em off até montagem com jump-cuts). No final das contas Von Trier realiza uma obra concisa e coerente com o restante da carreira do autor: polêmica gratuita acompanhada de qualidade técnica.

Confira os cinco primeiros colocados clicando aqui.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Filmage: The Story Of Descendents/All

O movimento punk talvez seja o maior legado que a história da musica tenha deixado: a agressividade, a ironia e a subversão cultural presentes no movimento faz com que qualquer amante da música conheça-o, e que pouquíssimos não se identifiquem com o mesmo. A universalidade por trás do punk é o que o tornou tão memorável, e é por isso que um enorme receio toma conta daqueles que (aos poucos) percebem o quão verossímil é o fato de o movimento estar morrendo. O movimento sim, sua ideologia nunca.

E é justamente sobre essa ideologia que o documentário “The Story of Descendents/All”, dirigido por Deedle Lacour e Matt Rigle, procura refletir. Retratando a história de uma das maiores bandas de punk da história e precursora no Hardcore melódico/Pop-punk, o longa de uma hora e cinqüenta nos apresenta o universo por trás do Descendents, desde sua ideologia, formação até os altos e baixos por trás do caminho percorrido pelo grupo. Trazendo entrevistas com músicos reconhecidos no cenário do rock (integrantes da própria banda, artistas que foram influenciados pelos mesmos e amigos que viveram de perto essa história) o filme é um excelente feito cinematográfico.

Cartaz do filme "Filmage: The Story Of Descendents/All"

The Story of Descendents/All é um convite para adentrar o universo do punk oitentista, e através de um motion graphic impecável e animações de traços simples e caricatos (estética própria não só do movimento, como também da banda que o filme trata) a ambientação acaba sendo instaurada, provocando imersão completa por parte do espectador diante da projeção. Desde a citação das letras da banda enquanto a trilha se faz presente, até os inserts e sobreposições de imagens antigas em cima dos convidados: tudo é de extremo bom gosto e refinamento. Cada entrevista é uma nuance diante da história contada, e a verossimilidade das palavras ditas pelos entrevistados atribui um preciosismo gritante ao filme, tratando-se da história de um movimento feito às margens da sociedade no melhor estilo “do it yourself”, é gratificante perceber a paixão aplicada ao punk por parte de todos aqueles que o ajudaram (e ainda ajudam) a construí-lo. Os maiores destaques dentre os entrevistados, como já esperado, acabam sendo Bill Stevenson e Milo Aukerman - ambos presentes desde o início da banda – figuras mais carismáticas do grupo. Bill Stevenson sempre fora o baterista e líder da banda, além de ser um alívio cômico o doc também enaltece a poética (no sentido de compreensão artística) por trás do esforço que Bill fizera ao passar dos anos para que a banda continuasse viva, despertando assim uma empatia enorme por parte de quem testemunha tais depoimentos. Já Milo Aukerman se mostra, mais uma vez, uma das figuras mais carismáticas e apaixonantes no mundo da música.

 De uma simplicidade descomunal, Milo (que também serviu de inspiração para a criação do personagem que estampa quase todos os álbuns da banda) com postura tímida e de poucas palavras, fala desde sua paixão pela bioquímica até o companheirismo que a convivência na estrada despertara em sua vida, tudo de forma tão sucinta e acessível que o espectador jura estar assistindo uma entrevista do Aukerman adolescente: aquele que fazia shows vestindo meias, samba-canção e camiseta de super heróis.  É também graças a essa paixão dividida, entre bioquímica e a banda, que o documentário acaba falando sobre outro grupo que faz parte da vida de todo fã de Descendents: All é o nome da banda que sai em turnê todas as vezes que Milo decide voltar aos estudos. Trazendo a mesma formação que o Descendents atual, porém com outro vocalista (Chad Price), All até hoje acaba provocando polêmica entre os fãs, por parecer uma emulação redundante.

A atual formação do Descendents
Sendo boa parte feita com imagens de arquivos, o filme faz um regaste histórico de extrema valia sobre as modificações que o punk vem sofrendo desde os anos 80, e respeitando uma cronologia narrativa o resultado de compreensão sobre a evolução do gênero até os dias de hoje se faz mais claro. No final das contas a desconstrução promovida pelo longa (vide “os punks também amam") é de extrema satisfação. Perceber tal movimento, que carrega uma imagem tão pesada e viril, como extremamente humano e sincero é uma experiência capaz de trazer lágrimas aos olhos de quem assiste, as mesmas lágrimas que Bill derrama no filme ao falar, sobretudo, do amor que gira em torno do movimento punk. 

terça-feira, 4 de novembro de 2014

O lobo atrás de todas as portas.

Nada melhor do que um filme lhe fazer surpreso, daqueles sentimentos térreos que enchem o dia de qualquer um com alegria. O Lobo Atrás da Porta provocara exatamente esse tipo de surpresa, do tipo que vem com satisfação e – ao final da exibição – acaba trazendo afirmação através da frase: “Esse é um dos melhores filmes do ano”.

Lançado no começo de 2014, O Lobo Atrás da Porta é dirigido por Fernando Coimbra e trata-se de um Thriller nacional em torno do desaparecimento de uma menina. Proposta básica de qualquer roteiro de suspense, “O Lobo...” conta a história de um delegado (interpretado pelo excelente Juliano Cazarré) interrogando três adultos relacionados à garota sumida. Eles são: a mãe Sylvya (interpretada por Fabíola Nascimento), o pai Bernardo (interpretado por Milhem Cortaz) e a amante de Bernardo (interpretada por Leandra Leal, e se revelando uma atriz mais sólida do que nunca). O filme já começa com ritmo frenético e assim se mantém do início ao fim, com personagens tão profundos e que permitem nuances tão grandes, o espectador acaba por se perder no meio de tanta loucura, não de forma negativa, mas sim de forma empírica. Você vive o mistério que o roteiro lhe oferece e em troca disso se sente preso e incapaz de saber em quem acreditar, quem defender e quem condenar. O fato dos acontecimentos na história serem contados fora de ordem cronológica também permite uma série de surpresas que deixam ainda mais interessante conhecer os personagens e o real motivo do desaparecimento da menina.

A presença de um minimalismo – o filme não tem grandes sequências, planos extensos ou enquadramentos gananciosos – lhe rende uma sofisticação, aquela clássica do ditado “menos é mais”. Os cenários todos em tons frios refletem na atmosfera sombria dos protagonistas, e torna suas personalidades tão diluídas que não são poucos os momentos em que o espectador questiona: “Afinal, quem é o lobo nessa história?”. Os quadros sempre fechados aumentam a tensão e a sensação, já comentada, de claustrofobia. As duas cenas principais (uma em um consultório médico e outra em um terreno baldio) se dão com plano americano e plano médio, respectivamente, o que faz com quem a assiste se perceba como testemunha oculta próxima ao acontecimento.
Presença de enquadramentos bem fechados
Outro aspecto interessante também é de que o último plano (onde a personagem de Leandra Leal é mostrada) já fora visto no começo do filme, mas ao contrário da primeira vez onde o enquadramento se dava em suas costas, dessa vez vemos a personagem de frente. Uma variação atribuída de valores, no qual afirma que dessa vez a mesma cena se da frente, pois todos já conhecem o que há por trás desta mulher – sua real faceta já fora revelada.

Os créditos sobem instantes depois que o mistério se revela, provocando desconforto tão grande e tão sufocante que nenhuma palavra é proferida dentro da sala de exibição. Todos os olhos estão vidrados na tela e procuram um reconforto no que fora assistido. Não há reconforto algum. A naturalidade com que o roteiro trata a questão abordada é tanta que a conclusão é inevitável: você não está assistindo apenas uma obra de ficção, você está vendo uma realidade adaptada a um filme – uma história que se repete inúmeras vezes e ainda se repetirá cotidianamente. O lobo talvez não esteja atrás de sua porta, mas com certeza existem lobos rondando o seu redor.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Annabelle: A boneca pretensiosa

Pretensão é uma das alegorias que mais frustram no cinema, no sentido de o filme ser pretensioso e não se mostrar para o que veio ou, no caso de Annabelle (de John R. Leonetti), se revelando nada além de uma decisão da produtora para lucrar mais. Sabemos que cinema é tido como mercado (nos Estados Unidos... deixemos claro), mas é frustrante ver que exatamente todos os filmes que vieram à circuito nacional esse ano, do gênero terror, são falhos e medíocres - no que se diz em relação com a arte. Discurso piegas sim, calcado na constatação que desde Evil Dead (2013, de Fede Alvarez) e Insidious 2 (também de 2013, do sensacional James Wan) não vemos produtos realmente bons nos cinemas. O que acontecera com o cinema de terror? Será 2014 apenas uma péssima safra, ou essa postura é realmente definitiva?

Annabelle começa com uma premissa clichê que apesar de tudo não incomoda, aliás, a primeira metade do filme se mostra sucinta e funciona, com planos sequências de extrema valia e personagens bem construídos mas, no que diz  criação da tensão – Annabelle é um erro desde o primeiro minuto já que todas as cenas de suspense só funcionam por causa do artifício de desenho sonoro. Depois de um tempo torna tudo sofrível, você se acostuma à ambientação aumentando em cada cena de tensão e, quando o ápice acontece, uma explosão sonora se faz presente... mais uma vez.

John R. (o responsável por todo esse erro) conquista no começo já que sua direção se mostra muito bela principalmente na sutileza do enquadramento e no trabalho com camadas presentes em todos os planos, mas tudo isso não passa de frutos de outros pés. James Wan, o produtor do filme, já mostrara isso em todos seus trabalhos anteriores (com exceção de Jogos Mortais, que apresentava outra proposta estética) e fica claro que Annabelle tem a mão dele sim, erro que provoca desconforto e já fora visto com outros nomes como: Tarantino em O Albergue 2 (2010) e Steven Spielberg em Poltergeist (1982). Diretores aprendam: produzir não lhe da o direito de assinar tudo. Aliás, existe outra (de várias) cena no filme que incomoda a quem conhece os trabalhos de Wan, em torno de um diálogo entre a protagonista e sua vizinha, o qual se mostra idêntico a uma sequência presente no filme Insidious (2010) e desempenha o papel de explicar o que os demônios querem.

Eu, chorando lágrimas de sangue ao assistir Annabelle
 A segunda metade é quando o filme realmente se perde e comprovam que as decisões do roteiro que antes pareciam coerentes agora se tornam um pandemônio de erros – salva a cena do elevador, que é o único atrativo dos 40 minutos finais e de longe a melhor proposta do filme. A conclusão do longa é o que mais destoa, beira o caricato e não provoca surpresa alguma já que o espectador a espera desde momentos anteriores.

 Por fim, Annaboring (trocadilho à altura do filme) é mais um arrependimento cinematográfico na longa lista que se acumula nesse ano – levando em conta que na última semana assisti Mockingbird (outro péssimo título, dirigido por Bryan Bertino) e os primeiros episódios da quarta temporada de American Horror Story, começo a questionar se terror tem a capacidade pra se manter como meu gênero favorito – ou se seremos como Madonna desde 2005 (frustrados e vivendo de clássicos).

domingo, 14 de setembro de 2014

Pânico: Um frisson na metalinguagem

Em uma realidade paralela onde os exageros não fossem massacrados pelos alheios, não seria difícil afirmar que o diretor Wes Craven é muito provavelmente o nome mais importante do cenário de terror no cinema mundial... desde que estourou criando a importante saga de A Hora do Pesadelo (lá na década de 80) o qual definiu regras para os slash movies nos dez anos seguintes. E é justamente sobre essas regras que esse texto se trata. Todos sabemos que os filmes de terror possuem suas regras (o que chamamos carinhosamente de clichê), tais como: "onde há sexo, há morte; o virgem sempre sobrevive; nunca se investiga a origem de um barulho, o assassino é onipresente". Coisas que todos sabemos, mas que dessa vez seriam questionadas.

Em 1996 Wes Craven mais uma vez fez história, sem lançar um filme decente desde "As Criaturas Atrás das Paredes" (clássico b-sider de 1991) o então - na época - jovem diretor anunciara o seu maior sucesso de crítica, público e lucro. Pânico era um filme ligeiramente simples porém extremamente transgressor no que se dizia cinema de terror, com uma premissa comum o filme desconstrói os slash movies através de uma proposta nova de diálogo com o público - promove um questionamento se atribuindo de uma metalinguagem até então nunca utilizada - brincando com os clichês e tornando seus personagem um de nós; cinéfilos que conhecem as regras dos filmes de terror. A clássica cena de abertura do primeiro filme da franquia já se mostrava irreverente, Drew Barrymore atendia o telefone de sua casa, sozinha à noite, e do outro lado da linha o assassino fazia uma série de perguntas, perguntavas que falavam justamente sobre... o cinema de terror. Levando em conta que na época Drew havia acabado de estrear a bomba de Joel Schumacher: Batman Eternamente e, que os trailers divulgados até então de Pânico traziam único e exclusivamente o rosto da atriz, fora uma surpresa tremenda para os primeiros espectadores o fato de que, justamente a atriz mais famosa do elenco tratava-se na verdade da primeira vítima do filme e que só depois dessa cena ficaríamos sabendo quem era, de fato, a protagonista de tal.
Drew Barrymore em Pânico 1
Mais um ponto para Craven, pois desde então as cenas de abertura, em que são apresentados os assassinos do filme juntamente da primeira vítima, se tonaram obrigatórias em um filme de slash. O segundo ponto do diretor se dá pelos diálogos do filme, quase a metade deles são exclusivamente em cima das famosas regras dos filmes de terror, conversas movidas através da questão principal do longa: quem é o assassino? Não apenas como homenagem a outros filmes, mas também como crítica aos maiores fracassos do gênero na década passada - inclusive uma autocitação pouco presunçosa por parte do diretor, mas não menos cativante, onde há a aparição de um dos personagens vestindo blaser preto e vermelho, junto a um chapéu de mesma cor, sendo chamado de Freddy, o qual era coincidentemente o mesmo nome do assassino do clássico "Hora do Pesadelo". A presença de personagens cinéfilos e conhecedores de cinema no filme também acaba por aproximar o espectador ao universo que está sendo apresentado, e torna todos os diálogos muito mais verossímeis.

O carisma de Ghostface (nome do assassino) também é outro ponto alto de Pânico. Além do visual ligeiramente engraçado, Craven atribuiu ao antagonista a características mais marcante de todas, a humanização do assassino. Humanização não no esquerdismo de "seus crimes são justificáveis", mas sim no fato de todas suas ações estarem suscetíveis ao erro, como também serem extremamente possíveis - Ghostface não se trata de um super humano/monstro com força descomunal, Ghostface não se move na velocidade da luz aparecendo em vários lugares ao mesmo tempo (ou quando o faz, se torna plausível) e o mais interessante: Ghostface é, na verdade, o assassino mais burro do cinema -  ele cai, se machuca, se perde e se atrapalha no meio de suas perseguições. Já o último ponto (nessa grande tabela) se dá pela revelação do assassino, e que pela primeira vez no cinema blockbuster estamos falando de dois seriais killers e não um, como acreditava-se. Também fora com o assassino deste filme que acabamos atribuindo características de identidade para o mesmo, e não de entidade como era feito até então.

O vilão da saga Pânico
Com o sucesso inegável não fora nenhuma surpresa que, já no ano seguinte, a sequência de Pânico fosse lançada. Pânico 2 acabou trazendo a mesma dobradinha de diretor (Wes Craven) e roteirista (Kevin Williamson), e dessa vez a metalinguagem toda se dava com: uma sequência que fala de outras sequências. Com os mesmos três protagonistas do primeiro filme (formado pela estudante Sidney, o agente Dewey e a repórter Gale Weathers) o longa se mostra tão bem construído quanto o primeiro, com uma cena de abertura igualmente genial - dessa vez se passando dentro de uma sala de cinema, com a primeira vítima assistindo a um "filme baseado nos eventos reais do primeiro filme"... quase um nó no cérebro. Aliás a primeira morte de Pânico 2 também ocorria com uma celebridade da época, Jada Pinkett (que depois viria a se casar com Will Smith) e também trazia ela na capa do filme, como no anterior que trazia Drew Barrymore.

Já em Pânico 3 (lançado em 2000) os diálogos do filme eram todos movidos em cima das regras de: todo terceiro filme é o pior de uma trilogia, fatos do passado influenciariam diretamente no desfecho da película, tem mais vítimas que os dois anteriores, todo mundo (até o protagonista) pode morrer. Com a trinca de protagonistas formada mais uma vez, esse é sem dúvidas o pior título da saga. Dessa vez mesmo com uma sinopse irreverente - os assassinatos acontecem no set de gravações de Stab 3, sequência do filme mostrado na cena de abertura de Pânico 2 - o filme falha. Sim, premissa interessante que se perde no desinteresse promovido com a falta de carisma dos novos personagens (logo, novas vítimas) e nos diálogos arrastados pelos mesmos, erro o qual eu atribuo culpa à presença de um co-roteirista, o único filme da saga a possuir um até então, é também o filme mais mal fotografado dentre os três, tendo uma estética meio sépia em seus planos que é realmente irritante. Mais irritante, menos interessante... porém não menos divertido, e que apesar das quedas acaba encerrando a trilogia de forma satisfatória. Por fim Wes Craven ficou anos sem lançar nada realmente bom, com exceção do interessante Voo Noturno (2005)... aliás, Craven mal falava de sua trilogia em entrevistas fazendo com que muitos duvidassem de uma continuação, por isso a surpresa (e alegria) fora extrema quando Pânico 4 foi anunciado.

Pânico 4 saiu em 2011 - onze anos depois de Pânico 3 e trouxe uma nova roupagem para o universo de Woodsboro (cidade onde se passa o primeiro e segundo filme). Com um elenco totalmente reformado (salva a alegre exceção dos três protagonistas já citados) o filme se demonstra mais uma vez jovem e universal. Pânico 4, ao contrário do que se imaginava, não fala sobre "quartos filmes de sagas", ou "retorno de trilogias"... dessa vez a homenagem se dá aos frutos renegados do terror: mais conhecidos como Remakes. Homenagem que só faz sentido quando percebemos que todas as mortes do quarto filme possuem algum elemento que faz referência a alguma morte de Pânico 1. Com essa decisão Craven não demonstra apenas originalidade, mas também carinho com os fãs e o próprio universo criado. Aliás, já na cena de abertura (onde várias celebridades conhecidas do universo pop morrem) o diretor trás o conceito de metalinguagem a um extremo nunca tentado antes, em uma espécia de inception temos filmes dentro de outros filmes - sendo impossível de se explicar em um texto, sem que seu cérebro exploda. Tudo isso recuperando o fôlego dos diálogos irreverentes da saga, tendo espaço inclusive para alfinetar Jogos Mortais (criação do genial James Wan, considerado por muitos o Wes Craven da nova geração). O filme apresenta o melhor ritmo dentre os títulos da série, e se mostra completo naquilo que se refere a imersão na miscelânea do novo cinema de terror. Aliás, arrisco dizer que Pânico 4 é o mais sofisticado de todos no que se diz à sentido de linguagem cinematográfica, tendo espaço inclusive para uma leitura de semiótica na simbologia de suas cenas, coisa tão rara dentro do que nos é oferecido nos blockbusters de terror atualmente. Outra característica é que nessa parte da história a presença do gore (subgênero que vem cada vez se popularizando mais) é reconhecida, tendo as mortes mais violentas até então promovidas por Ghostface.

Poster de Pânico 4

Pânico 4 é o ultimo filme da franquia, e ao que tudo indica é o fim definitivo, já que Wes declarou não demonstrar interesse em um quinto título, também levando-se em conta que o diretor e Williamson brigaram durante as gravações do mesmo. Notícia que vem com alívio e aperto no coração dos fãs da saga. Aperto no coração pois o carinho criado com Sidney é realmente algo profundo, principalmente com aqueles que (assim como eu) cresceram assistindo os títulos da série, e alívio pois Pânico 4 fora, sem sombra de dúvidas, um encerramento excelente.

Por fim, Scream (como ficara conhecido lá fora) não é apenas uma boa saga, mas também uma homenagem ao gênero cinematográfico mais polêmico, desvalorizado e assistido do cinema mundial. Pânico é sobre falar de um universo que se admira, com respeito e sofisticação - de forma nada prolixa (ao contrário desse texto), é um título que revolucionou os slash movies, e lançou tendências as quais ainda são frequentemente imitadas pelos novos diretores. Com isso também concluímos que Wes Craven fora duas vezes gênio... será que há espaço para uma terceira reviravolta partida das mãos dele?

segunda-feira, 14 de julho de 2014

"O espelho" do marasmo

"O Espelho" (dirigido por Mike Flanagan) é uma das apostas do cinema de terror mainstream de 2014. O filme que é produzido pelos mesmo produtores de Insidious (o qual teve sua segunda parte lançada final do ano passado, sendo um dos melhores títulos daquele ano) e Atividade Paranormal, chega como novidade mas acaba pecando no excesso e se torna mais do mesmo. Mas, vamos a sinopse: "Tim (Brenton Thwaites) e Kaylie (Karen Gillan) são dois irmãos traumatizados pela morte inexplicada dos pais. Quando Tim sai de um hospital psiquiátrico, após anos internado, ele tem certeza de que a causa da tragédia familiar é um grande espelho que acompanha a família há séculos. Cercados por fenômenos paranormais, os dois tentam provar que o objeto é o verdadeiro responsável pela sangrenta história de seus ascendentes."

Tanto o nome do filme, aqui no Brasil, quanto a sinopse se demonstram um tanto genéricas e redundantes - não esquecemos a bomba "Espelhos do Medo" de 2008 -  não provocando empolgação alguma para quem possui um repertório pouco variado. Uma pena, pois o longa de fato tinha potencial, seja com a direção eficiente, no próprio sentido da decupagem com planos interessantes dentro do que o filme permite, ou com a construção do vilão - o próprio espelho - que funciona e se faz presente sem cansar o espectador, e sem cair no marasmo do "espelho que mata". Com cenas originais e interessantes o filme se inicia como bom entretenimento, mas o encanto não dura muito.

O único cartaz bom do filme.
Com a proposta interessante de intercalar o filme ora com flashbacks ora com imagens no presente, de forma que as ações do passado dialoguem e interfiram diretamente no atual (artifício já utilizado em Insidious 2, convenhamos), o filme se perde na metade (pela repetição da montagem) de forma que você não se interessa mais pelo desenrolar dos fatos, desde que chegue ao final logo. Os 104 minutos de duração soam muito mais que uma hora e quarenta e quatro, parece uma eternidade com pouco, muito pouco, terror de fato. Outra característica irritante do filme é a ambiência nos momentos de suspense, uma repetição de notas que se faz presente do primeiro a último minutos - sendo que os créditos finais sobem ao som da mesma maldita ambiência - faz com que até os menos acostumados a prestar atenção em tais detalhes, sintam uma irritação prévia.

Algumas cenas inclusive se tornam risíveis, de forma literal (com toda a plateia do cinema rindo) em momentos que supostamente deveriam causar o "frisson do terror" (vide a famosa cena da lampada/maçã, que aparece no trailer oficial, e é basicamente o único momento de terror no filme). Aliás, todos os plots interessantes se dão na primeira metade do longa, depois o tédio toma conta.

Apesar de tudo isso, confesso que o filme agrada mais do que o esperado, pela linguagem cinematográfica polida que o diretor apresenta, principalmente. Pois havia (eu), de fato, comprado o ingresso para falar mal do mesmo com "propriedade". O filme não funciona - o maior problema é tentar fugir da redundância e acabar caindo nela pelos argumentos mais básicos do roteiro - mas não é de todo ruim. Um bom entretenimento para sua quarta-feira à noite... Quarta-feira, pois sábado é dia de assistir filme bom.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Miss Violence e a denúncia da violência doméstica

Cinema grego vem sendo tido como o queridinho da geração de cinéfilos de internet. Tudo começou com "Dente Canino" (um dos melhores filmes de 2009) e depois com "Alpes" e "L" (ambos de 2012), ocorrera uma chuva de elogios para os três longas e, em pouco tempo, toda santa alma - de bom gosto - do filmow já os conhecia. Nessa semana a internet,  para nós cinéfilos, teve outro momento de exaltação e euforia. Fora disponibilizado o tão esperado Miss Violence, que em 2013 ganhou dois prêmios em Veneza, um de melhor diretor pelo trabalho de Alexandro Avranas e outro de melhor ator, para Themis Panou. 
Girando em torno de uma desconstrução da família de classe média tradicional, que vive em meio à crise europeia, o filme nos remete muito aos trabalhos de Lucrecia Martel (O pântano e a Mulher sem cabeça possuem a mesma atmosfera) porém sem a sutileza da mesma. Miss Violence já se inicia despertando um desconforto, dois na verdade - um pela cena de abertura, um plano sequência onde uma jovem de 11 anos se suicida, em pleno aniversário (cena que da o pontapé inicial da história, nos levando a querer descobrir o porque tal o cometerá) e outro por uma característica que se manteria durante sua uma hora e meia de projeção: a dureza e inflexibilidade da direção.



Todos os filmes antes citados (os três gregos e os dois da Lucrecia) possuem uma característica chave, de conseguir produzir estranheza por parte dos personagens apáticos com o espectador, com sutileza e sofisticação. No filme de Avranas isso não acontece, as ações são sólidas e pontuais, você pode ouvir um relógio dentro da cabeça dos atores: "Conte até três e vire à esquerda" ou "Largue o copo, olhe para o lado e lhe desfira um tapa no rosto", nada é fluído e natural. Desde os olhares para a câmera (que se repetem exaustivamente) até os enquadramentos recortando o pescoço dos personagens sentados no sofá. Não me entenda mal, o filme é de qualidade técnica impecável, e até mesmo as atuações funcionam de forma respeitável, o problema é realmente o diretor que não soube equilibrar seu papel dentro do set. Ele está por trás das câmeras, mas se faz visível em cada plano. Uma pena.



Mas nem tudo são lágrimas em "Miss Violence" (literalmente), o filme além de um belo apelo visual também possui escolha narrativa e construção de roteiro idênticas ao do filme Dente Canino, mas dessa vez sem parecer frígido ou plágio (ao contrário dos créditos na cena da abertura que me lembraram muito cof Caché ,do Haneke cof) a revelação da natureza dos personagens - um pai de família opressor e machista, que explora suas filhas sem dó e estimula em seu neto a mesma perseguição - é crescente e desesperadora. O plot point se revela aos poucos e mesmo não sendo tão surpreendente, provoca uma sensação de preenchimento quando revelado. O filme recupera fôlego da metade pro final e até consegue uma suavização da mão do diretor, quanto a seus problemas iniciais. A temática (o machismo, opressão e violência doméstica) são abordadas de uma maneira incisiva para com quem o assiste, nada de drama e a repetição do desabafo por parte das personagens femininas, mas sim um desenvolvimento de clima com base no suspense e horror, tornando tudo tão palpável e real sem que sejam necessários diálogos sobre o mesmo.

No final das contras "Miss Violence" é mais acerto do que erro, mais doce do que salgado - mesmo com um tema tão azedo. Os erros são justificáveis quando se leva em conta que é o filme de estreia do diretor, mais ainda quando se lembra que este é um filme de cunho político e desabafo, se utilizando da arte pra levar a discussão adianta. E isso, meus caros, é o que mais interessa.