sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Crítica: A Entrevista, de Seth Rogen

Após a exaustiva polêmica envolvendo o filme “A Entrevista”, episódio em que um grupo de hackers da Coréia do Norte ameaçou ataque terrorista próximo aos locais em que o filme fosse exibido nos EUA – o filme, dirigido por Seth Rogen, finalmente é lançado na internet (através de plataformas como Itunes e Amazon) e em apenas três dias já fez 18 milhões de dólares – o equivalente a um terço do orçamento do filme. Mais uma vez a polêmica vem acompanhada de bom retorno financeiro, mas isso torna "A Entrevista" um bom filme?

Depois de dirigir o mediano “É o Fim” (2013) Seth Rogen, que sempre se destacou como roteirista, aventura-se dirigindo pela segunda vez. Renovando a dobradinha James Franco e Seth, A Entrevista não é de todo play safe e se revela – entre altos e baixos – um filme sólido e interessante. Com quase duas horas de duração, o longa conta a história de um produtor televisivo (Seth) e o apresentador de um programa de entretenimento (James) que veem em uma entrevista com o líder da Coreia do Norte, a chance para elevar o nível qualitativo de seu programa, o qual não é levado à sério apesar de ser um imenso sucesso. Com uma introdução cansativa, principalmente graças aos trejeitos caricatos do personagem de Franco (ator que apesar de muito carismático, se revela cada vez mais mediano no que se diz sentido à sua competência profissional) o filme demora a desenrolar e insiste em algumas piadas repetitivas e que já foram vistas em outros trabalhos do diretor. Erro que se repete várias vezes durante o filme, que insiste em piadas já apresentadas, apenas pelo apelo popular (vide a piada sobre Firework, música da cantora Katy Perry, utilizada quatro vezes durante o filme). Apenas com a chegada de Kim Jong-un (o vilão) que o filme toma forma e recupera o fôlego que faltava.

Seth Rogen e James Franco, protagonistas do filme.
A partir dos 40 minutos, com a ida dos protagonistas a Coreia do Norte, “A Entrevista” se torna um atrativo enquanto apresenta o país que os mesmos visitam. Criando um universo bem único (o qual fica pontual através da direção de arte, que trabalha frequentemente com texturas e cores saturadas, parte da ilusão criada pela ditadura com os turistas, de que o país é divertido e belo) as piadas fluem melhor e se tornam mais dinâmicas, Rogen explora seu potencial como roteirista, mesmo com a pretensão xenofóbica de alguns momentos, e permite que os personagens cresçam à medida que o longa se desenrola: se até então o personagem de Franco era totalmente dispensável e irritante, na segunda metade do filme o mesmo se torna plausível e carismático. Outro destaque do roteiro é a presença da personagem Sook (interpretada por Diana Bang) que se revela forte e é a responsável pelas (poucas) reflexões de cunho político do filme e, ao contrário da maioria das comédias norte-americanas, não fica presa entre piadas machistas e na exclusividade de ser um apoio para o homem predominante em cena.

Still Frame do filme "A Entrevista"
Não é só no aspecto de Sook que o filme se diferencia, mas sim em fazer piadas com o opressor e não com o oprimido – apesar de algumas vezes as piadas lembrarem muito o discurso torto sobre um país socialista (o mesmo de "ditadura cubana no Brasil") e enaltecimento do estilo de vida norte-americano – ainda assim tem caráter diferente daquilo com que estamos acostumados a presenciar no cinema. O que se percebe é que, mesmo com um roteiro original, “A Entrevista” depende totalmente de apelo popular para que suas piadas surtam efeito; Seja através das referências e citações, até sua trilha sonora a qual é toda construída pela hype pop do momento (desde a já citada Katy Perry, passando por artistas como Major Lazer, Kid Cudi e Lil Wayne) o filme se escora em suas musicas assim como em uma montagem mais dinâmica (de videoclipe) para encorajar seu público a rir de suas piadas.

No final das contas o longa se revela um filme acima da média e de uma inteligência de marketing assustadora, não surpreenderá se o mesmo for o filme mais vendido de 2015 visto que o mesmo fora um dos assuntos mais comentados no segundo semestre de 2014 e, visto também, que desde TED (filme cafona e sem senso algum de timing para piadas, dirigido por MacFarlane) uma comédia não possuía apelo popular com tamanha magnitude. Well done, Seth Rogen.

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