Após a exaustiva polêmica
envolvendo o filme “A Entrevista”, episódio em que um grupo de hackers da
Coréia do Norte ameaçou ataque terrorista próximo aos locais em que o filme
fosse exibido nos EUA – o filme, dirigido por Seth Rogen, finalmente é lançado
na internet (através de plataformas como Itunes e Amazon) e em apenas três dias
já fez 18 milhões de dólares – o equivalente a um terço do orçamento do filme.
Mais uma vez a polêmica vem acompanhada de bom retorno financeiro, mas isso
torna "A Entrevista" um bom filme?
Depois de dirigir o mediano “É o Fim” (2013) Seth Rogen, que sempre se destacou como roteirista, aventura-se dirigindo pela
segunda vez. Renovando a dobradinha James Franco e Seth, A Entrevista não é de todo
play safe e se revela – entre altos e
baixos – um filme sólido e interessante. Com quase duas horas de duração, o
longa conta a história de um produtor televisivo (Seth) e o apresentador de um
programa de entretenimento (James) que veem em uma entrevista com o líder da
Coreia do Norte, a chance para elevar o nível qualitativo de seu programa, o
qual não é levado à sério apesar de ser um imenso sucesso. Com uma introdução
cansativa, principalmente graças aos trejeitos caricatos do personagem de
Franco (ator que apesar de muito carismático, se revela cada vez mais mediano
no que se diz sentido à sua competência profissional) o filme demora a
desenrolar e insiste em algumas piadas repetitivas e que já foram vistas em outros trabalhos do diretor. Erro que se repete várias
vezes durante o filme, que insiste em piadas já apresentadas, apenas pelo apelo
popular (vide a piada sobre Firework,
música da cantora Katy Perry, utilizada quatro vezes durante o filme). Apenas com a
chegada de Kim Jong-un (o vilão) que o filme toma forma e recupera o fôlego que
faltava.
Seth Rogen e James Franco, protagonistas do filme. |
A
partir dos 40 minutos, com a ida dos protagonistas a Coreia do Norte, “A
Entrevista” se torna um atrativo enquanto apresenta o país que os mesmos
visitam. Criando um universo bem único (o qual fica pontual através da direção
de arte, que trabalha frequentemente com texturas e cores saturadas, parte da
ilusão criada pela ditadura com os turistas, de que o país é divertido e belo)
as piadas fluem melhor e se tornam mais dinâmicas, Rogen explora seu potencial como
roteirista, mesmo com a pretensão xenofóbica de alguns momentos, e permite
que os personagens cresçam à medida que o longa se desenrola: se até então o
personagem de Franco era totalmente dispensável e irritante, na segunda metade
do filme o mesmo se torna plausível e carismático. Outro destaque do roteiro é
a presença da personagem Sook (interpretada por Diana Bang) que se revela forte
e é a responsável pelas (poucas) reflexões de cunho político do filme e, ao
contrário da maioria das comédias norte-americanas, não fica presa entre piadas
machistas e na exclusividade de ser um apoio para o homem predominante em cena.
Still Frame do filme "A Entrevista" |
Não é
só no aspecto de Sook que o filme se diferencia, mas sim em fazer piadas com o
opressor e não com o oprimido – apesar de algumas vezes as piadas lembrarem
muito o discurso torto sobre um país socialista (o mesmo de "ditadura cubana no
Brasil") e enaltecimento do estilo de vida norte-americano – ainda assim tem
caráter diferente daquilo com que estamos acostumados a presenciar no cinema. O que se
percebe é que, mesmo com um roteiro original, “A Entrevista” depende totalmente
de apelo popular para que suas piadas surtam efeito; Seja através das
referências e citações, até sua trilha sonora a qual é toda construída pela hype pop do momento (desde a já citada
Katy Perry, passando por artistas como Major Lazer, Kid Cudi e Lil Wayne) o filme se escora
em suas musicas assim como em uma montagem mais dinâmica (de videoclipe) para encorajar
seu público a rir de suas piadas.
No
final das contas o longa se revela um filme acima da média e de uma inteligência
de marketing assustadora, não surpreenderá se o mesmo for o filme mais vendido
de 2015 visto que o mesmo fora um dos assuntos mais comentados no segundo
semestre de 2014 e, visto também, que desde TED (filme cafona e sem senso algum
de timing para piadas, dirigido por
MacFarlane) uma comédia não possuía apelo popular com tamanha magnitude. Well done, Seth Rogen.
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