Cinema (sul) Coreano talvez seja um dos mais expressivos e únicos da cinematografia periférica atual (juntamente com o Cinema Iraniano e Indiano), sensibilidade é de fato uma grandeza genuína nas produções que, com o passar dos anos, se firmaram em festivais e tornaram-se promessas de bons títulos para o público cinéfilo mais seletivo. Universalidade nos temas abordados faz com que qualquer espectador compreenda e se enxergue na persona impressa em tela, os problemas vividos por seus protagonistas é reflexo de qualquer vida adulta, e sua línguagem cinematográfica é afirmada em tons poéticos.
Com isso apresentamos um top 5 com os títulos mais interessantes nas produções deste país.
✰ 5 - Oldboy - Park Chan-wook (2003) ✰
Sempre aclamado e lembrado, Oldboy (2003) acaba sendo a maior referência do cinema sul coreano, elogiadissimo em Cannes no ano de seu lançamento o mesmo se envolveu em uma polêmica ao promover uma discussão entre os juris na categoria "prêmio da crítica". O maior rumor é que Quentin Tarantino teria surtado após seus colegas de banca não terem nomeado o filme para recebimento do prêmio (entregando o mesmo aos filmes "Às Cinco da Tarde", de Samira Majmalbaf, e "Uzak", de Nujri Bilge Ceylan). O destaque de Oldboy da-se graças a precisão de suas cenas de luta, extremamente bem coreografados (no próprio contexto de mise-en-scene) e os plot points em seu roteiro - aliás, o final do longa é tido por muitos como a pior história de vingança do cinema. Oldboy faz parte de uma trilogia antecedida por Mr. Vingaça (2002) e encerrada por Lady Vingança (2005), sendo todos dirigidas por Chan-wook Park (que recentemente dirigiu o norte-americano "Segredos de Sangue" - protagonizado por Nicole Kidman). Os três filmes contam histórias de vingança e se atribuem de diferentes estilos narrativos para fazê-lo, revelando a versatilidade de Chan-wook.
✰ 4 - Mother- Joon-ho Bong (2009) ✰
Outra belíssima obra coreana, lançada em 2009, Mother é um filme sobre investigação policial que se utiliza desse pretexto para discutir a relação sensível entre mãe e filho e os limites que um amor materno suporta em nome de seu fruto. Apesar do argumento soar piegas e cansativo, vale a pena destacar mais uma vez que a sensibilidade dessas obras beira um rendimento espiritual por parte do espectador. A dor representada em tela é palpável para quem a recebe, o tom frio do filme (que possui uma paleta de cores escuras e opacas) torna tudo mais denso na tristeza retratada pela protagonista. Mother consegue despertar (ao longo de suas duas horas de filme) compaixão da forma mais agridoce possível. Verossímil.
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Still frame Mother (2009) |
✰ 3 - I Saw The Devil - Jee-Woon Kim (2010) ✰
Dirigido por Jee-Woon Kim, que ganhou reconhecimento mundial em 2003 ao lançar o terror "Medo" (apesar de mediano fora bem recebido pelo público e crítica), I Saw The Devil começa com uma proposta de thriller e, apesar de acabar diluindo sua narrativa e se tornar um filme de ação da segunda metade para o final, não cai em clichês narrativos e se estabelece com um ritmo dinâmico e extrasensorial. A maioria de suas sequências violentas são sensitivas (graças a um desenho de som exagerado e caricato, vide giallo) permitindo que o espectador as perceba como "não-genuínas", mas ainda assim extremamente dolorosas, aliás, o elemento caricato ronda o longa frequentemente, e não prejudica de forma alguma o desempenho de seu universo. As cenas desenroladas em cenário urbanos do país possuem tanta irreverência visual que inúmeras vezes é questionável de onde a mesma se passa. Esse aspecto de mise-en-scène aplicada a estética urbana é comum no Cinema Coreano, mas geralmente vem acompanhado de uma impressão cultural do local - I Saw The Devil não funciona da mesma forma, sua universalidade é muito mais constante. Destaque também para uma das sequências que envolvem investigação policial na beira de um rio que faz clara referência, ao já citado neste post, Mr. Vingança.
✰ 2 - Poesia - Chang-don Lee (2010) ✰
Este filme é um divisor de águas para quem quiser compreender a beleza na simplicidade do cinema coreano. Poesia conta a história de uma senhora de 60 anos que precisa lidar ao mesmo tempo com um crime em sua família e seu diagnóstico de Alzheimer, em meio a tudo isso a mesma acaba encontrando alívio e compreensão no mundo da poesia. Dirigido por Chang-don Lee (responsável por outro grande título coreano chamado "Sol Secreto", de 2007), o diretor expõe uma vulnerabilidade e melindrismo muito únicos no universo da protagonista. Não há apenas empatia, mas também ternura na relação estabelecida com aquele que o assiste. Muitas vezes remetendo à trabalhos de Kim-ki Duk (outro grande diretor coreano), os limites do espaço rural de encontro ao urbano contemplam aquilo que é apresentando através de palavras, nas poesias da protagonista.
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Still Frame - Poesia (2010) |
✰ 1 - O hospedeiro - Joon-ho Bong (2006) ✰
Pela primeira vez neste blog, um top 5 terá dois filmes de um mesmo diretor. O hospedeiro também é dirigido por John-ho Bong, porém segue uma linha narrativa inversa ao de seu filme Mother. Enquanto Mother trata-se de um drama (com elementos policiais) que conta uma relação entre mãe e filho, este se atribui do terror (com elementos de sci-fi) para contar uma relação entre pai e filha. Lançado em 2007, o longa rendeu uma repercussão enorme na internet em meio aos fóruns sobre cinema de terror, pois o mesmo era vendido como um novo "Godzilla" (só que em proporções menores, deixemos claro) o que depois fora percebido como equivoco, já que o mesmo vai muito além de seu argumento inicial. Logo em seu começo somos apresentados a um dos planos sequências mais bem coreografados já visto, e compreendemos ainda neste instante que John-ho não está preocupado exclusivamente em atingir os fãs de terror/sci-fi, com um entretenimento visual, mas também outorga carisma à família protagonista, trazendo o (já dito e repetido neste post) autorreconhecimento característico do cinema coreano. Por fim, "O Hospedeiro" tem uma estrutura muito parecida com "I Saw The Devil": seu começo explora os pontos comuns do gênero proposto, mas de sua metade para o final o filme acaba indo por outros caminhos narrativos, alívios da comédia e algumas zonas de conforto da ação, não prejudicando de forma alguma seu desempenho.
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Still frame - O Hospedeiro |
Filme bônus:
✰ Birdcage Inn - Kim-ki Duk (1998) ✰
Um dos filmes mais controversos de Kim-ki Duk, mas que possui lugar garantido no coração deste que vos escreve. Trata-se de um drama coreano com nuances de novelas mexicanas, mas que resultam numa obra única e de extrema crítica a desigualdade social no país. Uma narrativa simplória mas de forma alguma pobre, que é negada por muito dos fãs desse talentoso diretor.