Pretensão é uma das
alegorias que mais frustram no cinema, no sentido de o filme ser pretensioso e
não se mostrar para o que veio ou, no caso de Annabelle (de John R. Leonetti), se revelando nada além
de uma decisão da produtora para lucrar mais. Sabemos que cinema é tido como
mercado (nos Estados Unidos... deixemos claro), mas é frustrante ver que
exatamente todos os filmes que vieram à circuito nacional esse ano, do gênero terror,
são falhos e medíocres - no que se diz em relação com a arte. Discurso piegas
sim, calcado na constatação que desde Evil Dead (2013, de Fede Alvarez) e
Insidious 2 (também de 2013, do sensacional James Wan) não vemos produtos
realmente bons nos cinemas. O que acontecera com o cinema de terror? Será 2014
apenas uma péssima safra, ou essa postura é realmente definitiva?
Annabelle começa com
uma premissa clichê que apesar de tudo não incomoda, aliás, a primeira metade
do filme se mostra sucinta e funciona, com planos sequências de extrema valia e
personagens bem construídos mas, no que diz criação da tensão – Annabelle
é um erro desde o primeiro minuto já que todas as cenas de suspense só
funcionam por causa do artifício de desenho sonoro. Depois de um tempo torna
tudo sofrível, você se acostuma à ambientação aumentando em cada cena de tensão
e, quando o ápice acontece, uma explosão sonora se faz presente... mais uma
vez.
John R. (o
responsável por todo esse erro) conquista no começo já que sua direção se
mostra muito bela principalmente na sutileza do enquadramento e no trabalho com
camadas presentes em todos os planos, mas tudo isso não passa de frutos de
outros pés. James Wan, o produtor do filme, já mostrara isso em todos seus
trabalhos anteriores (com exceção de Jogos Mortais, que apresentava outra
proposta estética) e fica claro que Annabelle tem a mão dele sim, erro que
provoca desconforto e já fora visto com outros nomes como: Tarantino em O
Albergue 2 (2010) e Steven Spielberg em Poltergeist (1982). Diretores aprendam:
produzir não lhe da o direito de assinar tudo. Aliás, existe outra (de várias)
cena no filme que incomoda a quem conhece os trabalhos de Wan, em torno de um
diálogo entre a protagonista e sua vizinha, o qual se mostra idêntico a uma
sequência presente no filme Insidious (2010) e desempenha o papel de explicar o
que os demônios querem.
Eu, chorando lágrimas de sangue ao assistir Annabelle |
A segunda metade é
quando o filme realmente se perde e comprovam que as decisões do roteiro que
antes pareciam coerentes agora se tornam um pandemônio de erros – salva a cena
do elevador, que é o único atrativo dos 40 minutos finais e de longe a melhor proposta
do filme. A conclusão do longa é o que mais destoa, beira o caricato e não
provoca surpresa alguma já que o espectador a espera desde momentos anteriores.
Por fim, Annaboring
(trocadilho à altura do filme) é mais um arrependimento cinematográfico na
longa lista que se acumula nesse ano – levando em conta que na última semana
assisti Mockingbird (outro péssimo título, dirigido por Bryan
Bertino) e os primeiros episódios da quarta temporada de American
Horror Story, começo a questionar se terror tem a capacidade pra se manter como
meu gênero favorito – ou se seremos como Madonna desde 2005 (frustrados e
vivendo de clássicos).
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