segunda-feira, 30 de junho de 2014

Xavier Dolan: Talentoso ou pedante?

Nada é mais gratuito na vida, que o haterismo. Partindo desse pressuposto darei inicio ao post sobre um dos jovens diretores mais amados da atualidade, o promissor Xavier Dolan.
Quando surgiu como diretor, lá em 2009, entrou direto em Cannes e foi abraçado pela crítica - Eu Matei Minha Mãe deu início a uma saga de check in (quase) anual de Xavier Dolan no festival francês provando que antes de tudo trata-se de fato, de talento... mas, até que ponto os filmes do cineasta canadense possuem potencial cinematográfico para tanta aprovação? Até que ponto as coisas não passam de bajulação do jovem carismático?


"Eu Matei Minha Mãe" serviu para apresentar a estética absoluta do que seriam os filmes posteriores de Dolan, em meio a um roteiro fraco - com todos os clichês da descoberta sexual de um jovem, os dramas limitados de uma relação entre mãe e filho, os gritos agudos do cinema francês (dessa vez canadense) - o filme se sustenta em um eterno looping das primeiras 20 páginas do roteiro, a construção é nítida entre momentos de descoberta, momentos de briga com sua mãe e momento de aceitação de sua vida, se repetindo de novo, e de novo e de novo... Confesso que mesmo percebendo a repetição, o filme é carismático, até bonitinho e rola sim a identificação do arquétipo jovem da metrópole. Not a big deal. O detalhe extra - é o próprio Xavier quem interpreta o protagonista.

Um ano depois (isso mesmo, um ano depois) Xavier Dolan já surge com outro filme, dessa vez a novidade é "Amores Imaginários" (novidade, será?). A história gira em torno de um jovem gay (de novo), descobrindo sua orientação sexual (de novo) enquanto disputa seu candidato a namorado com sua melhor amiga, protagonizando cenas de discussão (de novo) ao longo do filme. Ah, e ele interpreta o protagonista (de novo). 
Ok, não sejamos básicos em não apontar que o longa apresenta sim bons momentos, demonstrando a visível evolução do jovem diretor, principalmente no que se diz a escolha estética de seu filme (o frisson intenso nas cenas de slow motion, e a beleza plástica nos planos fazem a narrativa se tornar ainda mais envolvente). Rola também um amadurecimento no que diz a respeito dos diálogos, um amadurecimento bem expressivo aliás, se for levado em conta que ambos os filmes foram lançados com menos de um ano de diferença. Ponto pra ele.

Chega 2012 e o terceiro filme estreia, dessa vez a pedantismo por parte do diretor atinge novos limites. "Laurence Anyways" é o filme mais megalomaníaco, prolixo e desnecessariamente longo de 2012 (3 horas de duração, meus amigos) e apesar de não ser protagonizado pelo próprio diretor (com a glória divina) cansa mais do que qualquer filme de sua carreira. Um filme que trata sobre a transexualidade se permitir ser tão raso e fútil quanto este é realmente uma audácia. Mas pelo visto não fui só eu quem detestou, levando em conta que Cannes renegou este filme de sua seleção - fazendo com o que o mimado Xavier Dolan tivesse um surto e não enviasse seu filme seguinte para a curadoria do festival.

Águas passadas e com o clima mais calmo, o diretor de Amores Imaginários lança seu quarto filme. "Tom na Fazenda" é sim o maior acerto de sua carreira e me fez questionar meus princípios morais quando, ao final do filme, eu caí do amores e decidi re-assistir. Marcado pelo retorno de Xavier Dolan em frente as câmeras, Tom Na Fazenda conta a história de um jovem gay (risos) que ao ir para o velório de seu namorado, no interior do Canada, é obrigado a lidar com seu cunhado homofóbico e sua sogra que nega o fato de seu falecido filho ser gay. Eu sei que a premissa soa mais do mesmo, mas não... não dessa vez. O clima do filme é todo construído no terror, com referências clássicas de cenas em meio a um milharal, de perseguição e loucura dos personagens com as situações que os cercam. Permitindo uma desconstrução de gênero incrível, fazendo com que o espectador questione inúmeras vezes está assistindo um horror, um suspense ou um drama. Ah, se lembra da história do surto? Pois é, Tom Na Fazenda foi enviado exclusivamente para Veneza.

Por fim chegamos ao ano de 2014,  o quinto filme chama-se Mommy (Mãe... de novo?) e rendeu a Xavier o prêmio de melhor diretor no festival de Cannes deste ano. Ele dividiu o prêmio com ninguém menos que o ilustríssimo Godard. O que rendeu lágrimas por parte do jovem quando subiu ao palco, um ato de humildade e realização que, sinceramente, eu não esperaria de alguém tão pedante quanto ele. O filme ainda não chegou aos cinemas, muito menos a internet - realmente não sabemos o que nos aguarda.


Talentoso e premiado sim, não neguemos. Pedante e presunçoso também, não neguemos mais ainda. Xavier Dolan marca uma jovem geração que ama o cinema francês mais do que ninguém, e vende - sem dó - essa estética dramática e colorida. Só nos resta aceitar,  malditos hipsters.

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