terça-feira, 24 de junho de 2014

Sobre o transexual no cinema

A transexualidade no cinema sempre fora um assunto esquecido, apesar de aos poucos conquistar espaço, são poucos os títulos que de fato remetem e estabelecem uma discussão sobre o tema e, quando o fazem, o mesmo parece tímido em meio ao conjunto da obra. "Esse é um filme sobre a liberdade de gênero" - poucos que se permitem tal declaração e por isso merecem destaque diante dos demais. Filmes como "Transamérica" (2005), "XXY" (2007) ou até o curioso (com todo respeito, Apichatpong) "The Adventure Of Iron Pussy" (2003) são ouro em meio à  uma safra de filmes que além de - exclusivamente - vitimizar personagens transgêneros, acaba por reforçar um estigma pertencente a este grupo marginal.

Quando Jared Leto ganhou o oscar (agora, em 2014) por interpretar uma mulher transexual no filme Clube de Compras Dallas - um belo filme, não neguemos -  toda uma atmosfera de julgamento se fez presente. Esse prêmio foi justo? Sabemos que não é das tarefas mais fáceis para uma pessoa "comum" cisgênero fazê-lo, interpretar um transgênero é sim trabalho árduo e digno de reconhecimento mas, o porque não fora permitido a um ator trans representar este papel? Sabemos também que em qualquer área é difícil para um transexual se estabelecer como profissional, no cinema não é diferente já que são quase inexistentes (ao menos atualmente) as chances de um transgênero interpretar o papel  de um cisgênero... sendo assim, porque diminuir ainda mais suas chances fazendo justamente o contrário? O escritor MJ Kaufman postou em seu blog um texto tratando sobre o assunto: (trecho traduzido por mim)

"Atores cis* precisam buscar por algo que o ator trans já viveu na pele. Por exemplo, um ator trans com o qual eu trabalhei apresentou uma incrível vulnerabilidade quando revelou seu nome escolhido pela primeira vez, e se apresentou angustiado quando um personagem transfóbico utilizou o pronome de gênero errado. Esses momentos eu tive de explicar para que um ator cisgênero pudesse interpretar o mesmo papel." Confira o texto, na íntegra, aqui.

Os filmes comentados anteriormente (Transamérica e companhia) merecem destaque por trazer um personagem trans como protagonista, mas também merecem um bitch slap por justamente conter atores cisgêneros interpretando os mesmos. Veja bem, até mesmo para filmes onde a questão se faz totalmente presente, existe um tabu comprometendo o fato dê que transexual de voz àquela causa. É como a temática valesse a discussão mas, as pessoas que vivem na pele esse drama, não são permitidas aparecer, soa inclusive como retrocesso, até mesmo para o cinema nacional. Não esqueçamos da icônica Claudia Wonder (atriz transexual brasileira, falecida em 2010) que já havia atuado em inúmeros filmes nacionais, inclusive títulos como "O Marginal" e  "Sexo dos anormais" - tudo isso na década de 80.
Atriz Claudia Wonder
É difícil acreditar que casos como o da Larverne Cox (atriz transexual que atualmente está no elenco de Orange Is The New Black) seja exceção no mundo das artes, e que a limitação ainda é grande diante dos milhares de atores transgêneros existentes. O espaço é conquistado de pouco em pouco: festivais como o San Francisco Transgender Film Festival (SFTFF) acontecem justamente para revelar artistas trans e seus respectivos trabalhos (diante ou atrás das câmeras) recebendo a cada ano mais inscrições de filmes relacionados - o que comprova que existem sim profissionais que não só sentem na pele o que é ser transexual como também buscam através da arte expressar tais conflitos.

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